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Filosofia, um breve resumo da história


20/03/2015, 10h25m.

Há um debate sobre se a ~f nasceu na Grécia ou se os gregos beberam em fontes orientais [3].

No seu princípio a ~f quer saber principalmente do que são feitas as coisas, qual é o Arké, o princípio de tudo [1]. A ~f nasce com a passagem do mito ao logos, isto é, o surgimento da ideia de que o mundo deve ser explicado pela razão [5] (período embrionário e período cosmológico, todos os pré-socráticos. V. detalhes aqui).

Na idade clássica a ~f se divide entre os Sofistas, que usam a razão para convencer e lucrar, e os filósofos que tentam responder as grandes questões do bem, do belo, do verdadeiro e do justo. A busca da felicidade é um objetivo importante da ~f. Três etapas: período antropológico (Sócrates e os Sofistas), ontológico (Platão e Aristóteles) e ético (Estoicismo e Epicurismo). Nietzsche acha que a ~f morreu aqui [4] [8].

Na idade média a ~f europeia se esforçou para compatibilizar-se (isto é, conciliar a ~f grega redescoberta) com a religião. A ~f árabe saiu-se melhor nisso, e recuperou e preservou para o mundo o saber clássico. A lógica se desenvolve. As grandes perguntas são: como pode haver o mal, se Deus é bom? Como posso ter livre-arbítrio se Deus é onisciente? Como provar que Deus existe?

No Renascimento busca-se libertar o homem da cultura da idade média, que punha deus no centro de tudo. O humanismo busca por o homem no centro. Revive a ~f grega (como os medievais já tinham feito). Defende o uso da razão e da evidência empírica na investigação do mundo.

Se a renascença abalou a autoridade da igreja, o Iluminismo ameaçou as aristocracias e monarquias. A idade moderna marca a vitória da razão sobre a religião, e isso coincide com a Reforma, a criação das nações e a ascensão da burguesia. A ~f quer integrar o raciocínio filosófico com as novas descobertas da ciência. A ciência vira modelo, os filósofos tentam pensar à moda matemática [2]. As grandes perguntas são “o que posso conhecer” e “como chego a conhecer”. Empirismo e Racionalismo polarizam as opiniões. Questões como a natureza do universo saem do âmbito da ~f e passam a pertencer às ciências. Sobram as questões epistemológicas, existenciais e políticas. A grande mudança foi considerar as coisas externas como conceitos ou representações, isto é, tudo o que pode ser conhecido deve ser transformado em conceito interpretável pelo homem. A razão parece poder tudo.

Na época contemporânea [7], isto é, de Kant em diante, a ~f passa a ser basicamente uma grande teoria do conhecimento. Seu âmbito encolhe, temas saem do escopo da ~f e passam a pertencer a ciências. Kant informa que a razão não pode tudo. O interesse político desaparece (exceção feita a Marx). Comte e o Positivismo são expressão desse encolhimento: a ~f devia ser só uma reflexão sobre os resultados e significados dos avanços científicos. Na virada do séc. XIX para o XX a ciência (Darwin, evolução das espécies, 1859; Freud, 'Interpretação dos sonhos', 1900; Einstein, relatividade, 1906) parece explicar as questões que antes eram da ~f (o que existe, como funciona a mente). Por isso a política e a ~f moral voltam à pauta. Nietzsche redefine a agenda da ~f, incapaz de explicar o significado da experiência do indivíduo num universo sem Deus.

Parte dos filósofos seguiu essa pauta: surgem o Existencialismo e a Fenomenologia: estudo dos fenômenos que se manifestam para a consciência, a partir da ideia kantiana de que a razão é uma estrutura da consciência (Husserl considera a realidade um conjunto de significações ou sentidos produzidos pela nossa razão).

Noutra frente a ~f se torna província de acadêmicos profissionais. Vem a “virada linguística”: o interesse pelas estruturas do conhecimento e pela consciência e seus modos de expressão direcionou a ~f para recantos herméticos como questões abstratas da lógica (Filosofia analítica), que Russell aplicou à matemática, e depois à linguagem, criando a Análise linguística.

O final do Séc. XX foi marcado pelos pós-modernistas e pelo estruturalismo, que desconstruía os textos e negava qualquer possibilidade de unidade e objetividade na verdade, na perspectiva ou na narrativa. A ~f se torna abstrata.

No séc. XXI, ainda que alguns digam que a ~f morreu [6], porque a ciência dominou todos os aspectos da realidade, absorvendo temas que antes a ~f investigava (e porque os filósofos não conseguem mais acompanhar o desenvolvimento das ciências), restam para a ~f temas que a ciência não soluciona: a consciência, o sentido da existência, a interpretação dos fenômenos sociais (m.c.: faltam dois itens aqui, a busca da felicidade e a ética). V. ainda a incapacidade da ciência para explicar o devir, em Henri Bergson.


Notas e adendos:

[1] O que buscavam é atualmente chamado de “teoria do campo unificado”, uma teoria capaz de fornecer as bases para a explicação de qualquer fenômeno natural. (A2014m 167).

[2] Pascal, Leibniz e Descartes eram matemáticos (B2011f).

[3] V. “Os pré-socráticos”, col. Os Pensadores.

[4] Niet., Hum., (7). Também Heidegger, como Niet., pensa que Sócrates e Platão foram a ruína da ~f, porque nela introduziram “a análise e o argumento irrefutável” (S996p 7).

[5] f. pr.: V2013g.

[6] Hawking o disse, na Conferência Google Zeitgeist de 2014. V. aqui (l.ext.).

[7] No Séc. XVIII Inglaterra e França predominam. Na 1ª, que já ultrapassara a fase de revolução, inclusive industrial (1721), predominam o empirismo e, na ~f política, o utilitarismo. Na França, as ideias que combinam com a ascensão da burguesia. No Séc. XIX é a Alemanha que se impõe como fonte das ideias (B2011f).

[8] Depois de Aristóteles a ~f degenerou por uma de duas vias, comentário ou atitude. Estoicismo e epicurismo eram atitudes, mais que filosofias. A escolástica, a ~f árabe, a ~f medieval, eram comentários a Platão ou Aristóteles (S1999s).